quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Deus, justiça e política



Sempre me interessei pelos assuntos da política, e sei que isso não é muito frequente na juventude brasileira. Entendo que é um tema bastante chato para a maioria de nós, principalmente nesses tempos em que parece que não há muito pelo que brigar, por quem torcer, e nem a quem defender; tempos de desesperança política. Afinal, se nem os políticos parecem se interessar mais por ideologia, por que nos interessaríamos?

Tenho 33 anos, e por esse interesse estranho pelo assunto, guardo na memória algumas cenas marcantes. Algumas lembranças do General Figueiredo, o último dos militares a governar o Brasil, e que na minha memória parecia um grande grosseiro, como aliás era peculiar na ditadura; a campanha das "diretas já”, que pedia eleições diretas para presidente (lembro da Fafá de Belém cantando o hino nacional, bem como a presença de Lula e Fernando Henrique no evento, que incluía políticos e artistas famosos).


Campanha "diretas já", 1984.



Lembro da primeira eleição, ainda não direta, após o período militar, disputada entre Tancredo Neves e Paulo Maluf, ganha por Tancredo (a programação da TV era interrompida a todo instante para mostrar o resultado parcial); lembro do dia em que caminhava pra escola, e me disseram que não haveria aula porque o Tancredo tinha morrido, antes mesmo de assumir a presidência, notícia que emocionou o país, embalada por “Coração de Estudante” de Milton Nascimento e Wagner Tiso; lembro de José Sarney assumindo a presidência em seu lugar, em 1985; lembro das infinitas trocas de moeda, da inflação absurda; lembro da Constituição promulgada em 1988, uma vitória do país, consolidando a democracia após tantos anos de regime militar; lembro da eleição de Collor em 1989 – eu estava começando o ensino médio, ainda não votava – lembro das armações da Rede Globo contra Lula nessa eleição e posteriormente de sua participação no “impeachment” do funesto presidente. Enfim, são muitas lembranças, algumas entrecortadas, e que de alguma forma, me remetem ao tempo presente, às crises no Congresso e na política brasileira como um todo, onde se encontram muitas dessas figuras notórias de outros tempos.

Hoje eu lia um texto bíblico que queria muito compartilhar com vocês. É pequeno, mas muito enfático, e trata de política. Só pra contextualizar: Deus fala, através de seu profeta Jeremias, ao Rei Jeoaquim. Israel tinha essa forte “relação” estabelecida com Deus, o que significa dizer que a Lei de Deus era mais que uma série de preceitos religiosos, mas uma forma de se viver. Ou seja, a vida social e política também deviam seguir as mesmas leis de Deus, os mesmos princípios de vida estabelecidos em Sua Palavra. Frequentemente, Deus permitia a derrota do povo de Israel em uma batalha, por exemplo, em função da desobediência e corrupção de seu rei, e o oposto também ocorria.

Pois bem, Jeoaquim – o alvo desse discurso divino – era o sucessor do rei Josias (seu pai). Enquanto Josias havia sido um rei justo aos olhos de Deus, Jeoaquim fez o que muitos de nossos políticos fazem todos os dias, e mereceu a seguinte advertência divina. Eis então a mensagem de Deus para ele (e por que não dizer, para todos eles?):

"Ai daquele que constrói o seu palácio por meios corruptos, seus aposentos, pela injustiça, fazendo os seus compatriotas trabalharem por nada, sem pagar-lhes o devido salário. Ele diz: 'Construirei para mim um grande palácio, com aposentos espaçosos'. Faz amplas janelas, reveste o palácio de cedro e pinta-o de vermelho'. Você acha que acumular cedro faz de você um rei? O seu pai não teve comida e bebida? Ele fez o que era justo e certo, e tudo ia bem com ele. Ele defendeu a causa do pobre e do necessitado, e, assim, tudo corria bem. Não é isso que significa conhecer-me?", declara o Senhor. "Mas você não vê nem pensa noutra coisa além de lucro desonesto, derramar sangue inocente, opressão e extorsão". Portanto, assim diz o Senhor a respeito de Jeoaquim, filho de Josias, rei de Judá: "Não se lamentarão por ele, clamando: 'Ah, meu irmão!' ou 'Ah, minha irmã!'. Nem se lamentarão, clamando: 'Ah, meu senhor!' ou 'Ah, sua majestade!'. Ele terá o enterro de um jumento: arrastado e lançado fora das portas de Jerusalém!
(Jeremias 22: 13-19 – Nova Versão Internacional)

As raposas da política nacional têm agora uma vida curta. A maioria está numa idade bem avançada, em visível decadência do corpo. Alguns acumularam muita riqueza, compraram muitas terras, redes de TV e rádio, Estados inteiros até. Para onde as levarão depois? Para seus túmulos? Com quem hão de compartilhar suas vitórias? Quem são seus verdadeiros amigos? Onde estará sua glória? Em algum nome de rua ou escola? Quem há de lamentar por eles?

Resta-lhes apenas aguardar seus belos enterros de jumento...
Que Deus tenha piedade do povo brasileiro!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Viver e aprender

Estávamos sentados numa mureta, junto ao portão de entrada de sua antiga casa, no bairro do Fonseca, em Niterói. Enquanto eu tinha meu CD nas mãos e fazia uma pequena dedicatória ao anfitrião, Marcos Nimrichter (http://www.marcosnimrichter.com), conversávamos sobre vida pessoal e profissional. Ele, grande pianista e acordeonista, músico muito experiente, me dava conselhos e incentivo a respeito do que poderia se seguir àquele meu trabalho recém-gravado.

Fiz a dedicatória meio sem jeito, afinal já havia dedicado a ele algumas palavras no encarte do CD, e ele dizia: “faça algo simples, pelo menos pra eu me lembrar desse dia aqui, e dessa nossa conversa”.

A conversa girou em torno de sonhos e projetos de cada um, ele me falava de seu mestrado na UFRJ e eu falava das possibilidades que avistava com meu CD, de fazer alguns shows e tocar por esse mundão. Em determinado momento, disse a ele que eu desejava fazer um mestrado no exterior, mas que andava meio desanimado com a burocracia envolvida e tal. Ele me disse uma coisa que me esqueci depois, mas de algum jeito ficou guardada: “Bom, então você VAI fazer seu mestrado no exterior. Se é isso que você quer, você já decidiu, só precisa do tempo pra isso acontecer!”. Na hora, achei legal ouvir aquilo, mas poderiam ter sido apenas palavras, como quando dizemos “boa sorte” ou “passe lá em casa”. Mas a verdade é que ele não disse assim, ele realmente sabia o que estava dizendo, embora suas palavras, como eu disse antes, tenham saído da minha mente poucos dias depois.

Isso foi em dezembro de 2008. Em fevereiro de 2009, iniciei um processo de inscrição para o mestrado em música, em meio a tantas outras idéias que me ocorriam, inclusive o planejamento do lançamento do CD, e eu agia como quem atira em várias direções. Há muito o que falar sobre esse processo, mas o fato é que o lançamento do CD não ocorreu, e hoje, 7 meses depois (e há aproximadamente 11.000 km de distância), aqui estou eu começando meu mestrado em música, no Estado de Oregon, nos EUA.


Contei essa história porque acredito firmemente que definimos os rumos de nossas vidas. Não acredito e frequentemente me irrito com o discurso de que "basta sonhar e as coisas acontecem" (parece letra de música da Xuxa!). Como cristão, acredito na interferência divina sobre nossas vidas particulares, mas também acredito em nosso livre arbítrio, dentro de uma determinada “jurisprudência”. E acreditar em ambas não é contraditório.

Assim, muitas vezes Deus nos permite dar rumo às nossas vidas e aprender com nossas próprias escolhas, porém sem nunca nos abandonar - ao contrário do que pensam certos religiosos que costumam falar em nome de Deus para manipular seus quase sempre imaturos fiéis. E há outros momentos em que Ele interfere diretamente no movimento das coisas, no curso da história, e a isso chamamos “milagre”, seja através de um sinal exterior estrondoso, ou através de uma voz doce e calma dentro de nós.

Seja como for, quando penso em Deus como um Pai, imagino que seu objetivo seja nos tornar maduros pra tomarmos decisões maduras, quebrarmos menos a cara e alcançarmos felicidade plena.

Acredito que eu vivo hoje uma combinação de muitas decisões pessoais (com muitas lições aprendidas, esparadrapos e gesso) e muitas interferências divinas. Não importa o quanto seja de cada uma, me consola saber que, seja como e aonde for, Sua mão está sobre mim.

“...a prova da fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma” (Tiago 1: 3,4)