domingo, 19 de abril de 2009

Fiz calar e sossegar a minha alma...

Hoje eu voltei a pensar na ansiedade. Não é difícil observar pessoas ansiosas à nossa volta. Também não é difícil observar nossas próprias inquietações a respeito de tudo.

A ansiedade me lembra muito aquele dedo que você martela com força enquanto tenta pôr um quadro (“maldito quadro”, você pensa) na parede. Durante o dia ele dói, mas a gente vai de um lado pra outro, faz mil coisas e até consegue esquecê-lo. Acontece que a noite chega, você se deita na cama pra dormir, e o dedo lateja como nunca. Pulsa, pulsa, pulsa, como se o coração estivesse batendo dentro dele. De noite, no silêncio, a ansiedade também lateja mais forte porque o coração está mesmo nela. E o sono vai virar olheira no dia seguinte.

Admiro profundamente um homem chamado Davi. Davi foi o mais importante rei de Israel, por volta do ano 1.000 AC. Além de um bravo guerreiro – foi dele, ainda jovem, a famosa vitória sobre o gigante filisteu Golias, na história bíblica - Davi também era dono de um coração extremamente sensível: era músico (compositor e instrumentista) e poeta. Foi o responsável pela maior parte das 150 canções que formam o livro bíblico dos Salmos. Um dos aspectos mais fascinantes da vida de Davi é o fato de sua falibilidade, suas ansiedades e seus defeitos serem expostos da mesma forma que suas inúmeras virtudes. Não é um personagem de conto de fadas. É um cara como eu e você.

Em uma de suas canções (a de número 131 do livro dos Salmos) ele diz o seguinte:

“SENHOR, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar;
não ando à procura de grandes coisas,
nem de coisas maravilhosas demais para mim.
Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma;
como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe,
como essa criança é a minha alma para comigo.
Espera, ó Israel, no SENHOR, desde agora e para sempre”.

Em poucas palavras, queria compartilhar com você o que aprendi hoje com esse trecho:

1 – Não devo desejar além do que realmente preciso pra viver feliz – é fundamental que tenhamos projetos de vida, eu tenho nutrido vários em mim. Na verdade, nascemos para conquistar, criar, produzir, aprender, ensinar. Acontece que há limites para nossos desejos. Não ceda à pressão de querer ganhar o mundo custe o que custar, de se tornar um milionário, de ser o melhor sempre, de competir o tempo todo. Não acredite que é feliz quem tem mais, quem pode mais. Muitas dessas ansiedades só trazem frustração, porque esse é um jogo que não tem fim, sempre vai faltar alguma coisa. Não seja soberbo o seu coração, nem altivo o seu olhar.

2 – Preciso aprender a calar e a sossegar minha alma – Tem gente que não suporta o silêncio. Isso pode ser um mal sinal. Hoje eu lia um texto muito interessante de Rubem Amorese (www.amorese.com.br/OBRAS/PUBLICADOS/Publicados53.html), no qual ele dizia, a respeito do ser humano moderno: “O silêncio já lhe é insuportável, pois teme um encontro com sua alma, sem saber o que lhe dizer”. De fato, precisamos aprender a meditar sobre nossas ações, nossos princípios de vida, nossas motivações, nossas atitudes. A verdade é que sabemos quando erramos, sabemos quando temos que pedir perdão ou quando temos que reavaliar o rumo das coisas. O que nos impede de tomar as atitudes acertadas? Por que evitamos o silêncio? Por que não nos ouvimos? O filho de Davi, Salomão, reinou em Israel após seu pai e foi considerado o homem mais sábio do mundo. Ele dizia que “até o tolo, quando se cala, é tido por sábio”. Calar pode ser um grande exercício de auto-conhecimento, de humildade e de aprendizado.

3 – Preciso aprender a confiar – A criança desmamada se aquieta nos braços da mãe porque sua relação com ela é de amor, dependência incondicional e confiança total. É essa a relação que tento manter com Aquele que, creio, é o doador e condutor de minha vida. Sei que as coisas andarão em um bom rumo se minhas próprias ansiedades não atrapalharem o processo, me fazendo agir de forma impensada, desorganizada e equivocada. Um profeta bíblico, Jeremias, diria: “Bom é esperar em silêncio a salvação do Senhor”. A criança desmamada se cala ao voltar aos braços da mãe, porque se sente protegida e sabe que será alimentada. Ela não pode fazer quase nada por si mesma, quase não tem consciência do que acontece, mas descansa naquela “sensação” de paz.

Escrevo essas coisas pra você, porque na verdade escrevo primeiro pra mim mesmo, e encontro nessas palavras o consolo que preciso hoje para descansar minha alma, para dormir em paz, para retirar meu coração de dentro do dedo martelado, e devolvê-lo a seu devido lugar.

Tenha paz.

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