Quase sempre estudei em escola pública. Na verdade, fiz a primeira série do ensino fundamental numa escola particular do interior, Natividade (RJ). Depois disso, só pus o pé de novo numa escola particular na antiga 8ª série, quando eu sonhava em ser militar e ingressar no Colégio Naval, optando naquele ano por um desses muitos cursos preparatórios. Acabei passando para o curso técnico em química no CEFET-Química, no Maracanã. Assim, fiz o ensino médio também em escola pública, dessa vez federal.Lembro-me bem de vários colegas de classe de 1º grau. Lembro de gente muito pobre – eu estava longe de ser rico, mas sempre tive condições de estudar e ainda fazer meus cursinhos de inglês e de piano, um luxo pra muita gente. Muitos de meus amigos moravam em regiões miseráveis de São Gonçalo (RJ). Às vezes ia até a casa de um amigo para um trabalho escolar em grupo, e me surpreendia com aquela situação. Entre eles, havia muita gente talentosa: o amigo que era um excelente humorista, o cara que fazia caricaturas de todo mundo com extrema habilidade, o garotão grafiteiro, e uma dúzia de “nerds” que pareciam ter estudado matemática no ventre materno. Quanta gente boa!
Nunca mais pude revê-los. Espero que muitos tenham dado bom rumo às suas vidas, mas sei que boa parte se perdeu, abandonou talentos e vive de algum biscate no mesmo lugar em que vivia há 20 anos atrás.
Muito se fala da educação no Brasil, que ela é o caminho, e tal. Que ela é um caos no Brasil todo mundo concorda. Mas minha sincera opinião é que há oportunidades para todos os que desejarem de alguma forma se desenvolver. Reconheço que o Brasil não é um grande investidor de talentos, mas acredito na força pessoal, no trabalho árduo, no suor daqueles que “cavam” oportunidades e não desistem de perseguir seus sonhos, mesmo nesta terra injusta.
Quando reflito seriamente sobre essa questão, é impossível não considerar a hipocrisia da mídia nacional, especialmente a TV, a meu ver uma das principais responsáveis pelo “culto à ignorância” de nossos tempos. A mídia bate nos governos, chama-os de incompetentes, questiona seus investimentos em educação, mas ela mesma investe pesado na ignorância de seus “consumidores”. Dá com uma mão (pequena) e tira com a outra (gigante). A produção de lixo é um assombro. Os programas de auditório, os programas sensacionalistas em que apresentadores ignorantes fazem seu circo, as novelas e seu pobre conteúdo, a música medíocre das tardes de domingo... até as notícias dos telejornais têm a consistência do caldo de um miojo (quando você põe 1 copo de água a mais do que o recomendado na receita).
Quando a mídia resolve fazer média (desculpe, não era pra ser um trocadilho!) e “contribuir” para a educação do país, monta um telecurso pra passar naquele horário em que a gente está dormindo e – não se iludam – investindo muito pouco de seu rico dinheiro, através de uma parceria, ou com muitos reais em isenções de impostos. Reconheço que os telecursos são uma boa iniciativa, mas o resto da programação não precisava caminhar tanto na direção oposta. Nossa mídia não é em nada melhor que nossos governos.
Mas esse não é um texto-denúncia. Esse é um texto de esperança. Sou professor em escola pública (de música, ao menos). Convivo com gente de todas as classes sociais e vejo muito talento nessas pessoas. Minha palavra para a moçada é que é possível alcançar seus objetivos, mas apenas de uma maneira: com muito esforço. Achou que eu ia iniciar uma conversa de auto-ajuda, no estilo: “você pode tudo”, “você é o cara”, “basta querer e seus sonhos se realizam”? De jeito nenhum! Quer moleza? Fique em casa vendo o Faustão. Quer futuro? Desliga o lixo dessa televisão e vai correr atrás de seus sonhos. Quando estiver bem cansado, corra mais.
Estude, leia, pergunte, conheça suas habilidades, desenvolva-as... nem tudo é pago, nem tudo é caro. Leia tudo, livros científicos,
didáticos, poesia, romance, receitas de bolo. Leia muito. Melhore seu português falado e escrito, melhore sua dicção, melhore sua aparência. Além de suas amizades normais, tenha contato com pessoas mais velhas também. Abra sua mente. Gosta de música? Ouça funk, jazz, samba, hip-hop, rock, clássicos e sertanejo, seja capaz de distinguir suas diferenças, e aí sim, sinta-se livre para escolher o que mais lhe agradar. Mas não seja uma pessoa que só ouve uma coisa, que só lê uma coisa (ou nada), que só fala as mesmas coisas. Ouça as pessoas e desenvolva a habilidade de filtrar essas informações. Trabalhe muito e tenha objetivos. Não se acomode!
Não adianta reclamar do país, da família, da falta de dinheiro, do governo, das injustiças, da vida. Mãos à obra. Vai por mim, um dia sua grande oportunidade vai aparecer!
didáticos, poesia, romance, receitas de bolo. Leia muito. Melhore seu português falado e escrito, melhore sua dicção, melhore sua aparência. Além de suas amizades normais, tenha contato com pessoas mais velhas também. Abra sua mente. Gosta de música? Ouça funk, jazz, samba, hip-hop, rock, clássicos e sertanejo, seja capaz de distinguir suas diferenças, e aí sim, sinta-se livre para escolher o que mais lhe agradar. Mas não seja uma pessoa que só ouve uma coisa, que só lê uma coisa (ou nada), que só fala as mesmas coisas. Ouça as pessoas e desenvolva a habilidade de filtrar essas informações. Trabalhe muito e tenha objetivos. Não se acomode!Não adianta reclamar do país, da família, da falta de dinheiro, do governo, das injustiças, da vida. Mãos à obra. Vai por mim, um dia sua grande oportunidade vai aparecer!
Ah, e por favor, enquanto isso desligue um pouco a televisão!
